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conheça a história do Zagueiro Allyson

Campinas, SP, 11, (AFI) – O Guarani foi ao mercado e trouxe um nome de peso para reforçar o sistema defensivo na sequência da Série B. O novo contratado é o experiente zagueiro Allyson, de 34 anos, que firmou vínculo definitivo com o clube até o final do Campeonato Paulista de 2026. A contratação foi oficializada nesta terça-feira (10), ao lado do atacante Mirandinha, vindo do Maringá após destaque pelo Volta Redonda.

Mas Allyson carrega muito mais que rodagem no futebol. O defensor tem uma história que impressiona: começou no profissional aos 22 anos, trabalhou como estoquista, vendedor de pipa, chapeiro e panfleteiro, morou fora do país por quase uma década, aprendeu quatro idiomas e usou o futebol como ferramenta para ajudar jovens em situação de risco social. Uma trajetória de luta, fé, resiliência e muita bola.

SONHO ADIADO

A caminhada de Allyson no futebol começou muito longe dos gramados. Nascido em 1990, o defensor viu os pais se separarem ainda criança, o que desencadeou uma série de dificuldades familiares e emocionais. Por escolha própria, ele decidiu morar com o pai, em meio a muitas limitações.

“Desde pequeno eu sempre tive o sonho de ser jogador, mas a separação dos meus pais mexeu muito comigo. Passei por muita dificuldade, e para ajudar em casa, comecei a trabalhar cedo”, contou em entrevista à TNT Sports, ainda quando jogava no Cuiabá.

Dos 15 aos 20 anos, Allyson fez de tudo: panfletou por R$10 a noite e uma pizza brotinho, vendeu pipa, montou lanchonete com amigos, foi chapeiro e até estoquista de metalúrgica. Com a carteira assinada apenas duas vezes, ele nunca abandonou o futebol de várzea, jogando sempre que podia e tentando manter vivo o sonho de virar profissional.

A VIRADA

A guinada veio por acaso. Um conhecido que trabalhava no Nacional da Barra Funda indicou Allyson para uma peneira. Ele foi para tentar vaga como atacante, mas, diante da concorrência, topou tentar como zagueiro — posição que jamais havia atuado.

“Zagueiro pela esquerda? Não tinha ninguém. Levantei a mão. O treinador olhou e falou: ‘Você é canhoto?’ Falei que não. ‘É zagueiro?’ Também não. Ele riu e me chamou para treinar com o time profissional”, relembra.

Foi o começo da transição. O técnico o colocou para treinar como volante e zagueiro, até que dois meses depois, em 2012, Allyson assinou o primeiro contrato como profissional, aos 22 anos, com o Nacional. Passou por empréstimos no Grêmio Barueri e Independente de Limeira, até que surgiu uma oportunidade que mudaria sua vida.

EXPERIÊNCIA NA EUROPA

Em 2015, Allyson recebeu uma proposta do Maccabi Petah Tikva, de Israel. Lá, brilhou. Foram 141 jogos na elite israelense, com passagens marcantes por clubes como o Maccabi Haifa, com direito a participação na Europa League. Também atuou na Turquia, somando 46 partidas antes de retornar ao Brasil.

Durante os oito anos fora do país, Allyson se destacou dentro e fora de campo: aprendeu inglês, espanhol, hebraico e turco, estudou a cultura dos países por onde passou e virou uma referência para companheiros estrangeiros. “Os caras te respeitam quando você se interessa pela língua e cultura deles. Isso faz diferença”, afirmou.

Foi também na Europa que Allyson se envolveu no projeto Força Jovem Universal, ministrando palestras sobre depressão, síndrome do pânico e usando o futebol para atrair jovens. “Eu sofri com abandono, ódio, raiva. Perdi oportunidades por conta disso. Hoje, quero evitar que outros passem pelo mesmo.”

RETORNO AO BRASIL

Allyson retornou ao futebol brasileiro em 2023, quando foi contratado pelo Cuiabá para a disputa da Série A, a pedido do presidente Cristiano Dresch. Em sua primeira temporada na elite nacional, somou 22 jogos e um gol, enfrentando gigantes como Palmeiras, Corinthians e Flamengo.

“Jogar no Maracanã, na despedida do Filipe Luís, contra o Corinthians na Neo Química Arena… são jogos que marcam a carreira. Ali percebi que todo esforço tinha valido a pena.”

Em 2024, disputou o Campeonato Paulista pelo Botafogo-SP e, agora, chega ao Guarani com bagagem internacional e liderança, pronto para ser uma peça-chave na defesa alviverde.

SUPERAÇÃO E LIDERANÇA

Com 34 anos, Allyson é muito mais que um reforço. É exemplo de persistência, de quem venceu a fome, o abandono, a ausência de oportunidades e mesmo assim não desistiu do futebol. Agora, no Brinco de Ouro, terá a missão de ser uma das vozes da zaga e ajudar o Bugre na busca pelo acesso à Série A.

O Guarani acredita que, mais do que números, experiência e físico, o clube acaba de contratar uma história inspiradora — e um homem forjado nas batalhas da vida, que chega para liderar dentro e fora de campo.